Destruirás o Justo com o Ímpio?


Quais foram os pecados que destruíram sodoma e Gomorra?

https://www.esbocandoideias.com/2016/11/quais-pecados-destruiram-sodoma-e-gomorra.html

Li, a algum tempo atrás, um livro bastante interessante, intitulado "Por quem os Sinos Dobram", de Ernest Hemingway. Entre outros temas, o autor trata do absurdo da luta entre irmãos, tendo em vista que a história retrata aspectos da Guerra Civil Espanhola. O livro é inspirado em um trecho da obra do pastor anglicano John Donne, que afirma o seguinte:
"Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti". Meditações VII, John Donne
O livro de Hemingway inspirou ainda músicos por todo mundo. Além do grupo Metallica, Raul Seixas compôs uma canção com o titulo do livro:


A música e o livro, originados na obra de John Donne, me levou a reflexão sobre o fato de que todos somos, de alguma forma, responsável uns pelos outros, e que seríamos assim iguais, independente de nossas falhas ou virtudes. Porém algo ainda me incomodava. Como posso ser colocado em pé de igualdade com o tirano, o pecador, ou ao injusto?

A resposta começou a surgir no dia que  meu filho, de cinco anos, me chamou atenção para a música intitulada "Estátua de Sal": 



A mesma trata de uma passagem bíblica que para mim sempre foi controversa: a condenação de Sodoma e Gomorra. Inspirado pela música, fui relê-la, o que me levou a uma compreensão da ideia de igualdade presente no livro e na música "Por quem os sinos dobram". E mais: confirmou a ideia expressa por Luc Ferry no livro Aprender a Viiver: Filosofia para os Novos Tempos, de que a concepção de democracia moderna (e assim de liberdade e igualdade), teria suas origens no cristianismo. Vejamos a passagem:

E chegou-se Abraão, dizendo: Destruirás também o justo com o ímpio?
Se porventura houver cinqüenta justos na cidade, destruirás também, e não pouparás o lugar por causa dos cinqüenta justos que estão dentro dela?
Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra?
Então disse o Senhor: Se eu em Sodoma achar cinqüenta justos dentro da cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles.
E respondeu Abraão dizendo: Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza.
Se porventura de cinqüenta justos faltarem cinco, destruirás por aqueles cinco toda a cidade? E disse: Não a destruirei, se eu achar ali quarenta e cinco.
E continuou ainda a falar-lhe, e disse: Se porventura se acharem ali quarenta? E disse: Não o farei por amor dos quarenta.
Disse mais: Ora, não se ire o Senhor, se eu ainda falar: Se porventura se acharem ali trinta? E disse: Não o farei se achar ali trinta.
E disse: Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor: Se porventura se acharem ali vinte? E disse: Não a destruirei por amor dos vinte.
Disse mais: Ora, não se ire o Senhor, que ainda só mais esta vez falo: Se porventura se acharem ali dez? E disse: Não a destruirei por amor dos dez.
E retirou-se o Senhor, quando acabou de falar a Abraão; e Abraão tornou-se ao seu lugar.

Gênesis 18:23-33

Entendo que, de alguma forma, Sodomo e Gomorra aponta para a humanidade, que devido a seus pecados, necessita de um intercessor. Aqui, quem assume este papel é Abraão, que ao saber dos planos de Deus,  e ciente de que seu sobrinho, Ló, juntamente com sua família, lá residia, busca interceder pelos justos: "Destruirás também o justo com o ímpio"? A resposta de Deus, com Sua sabedoria infinita, foi: se e houver cinquenta justos (depois quarenta e cinco, quarenta, trinta, vinte e dez, e certamente chegaria a um, caso Abraão assim insistisse), não destruirei a cidade.
Porém, a cidade foi destruída, o que indica que não havia o número de justos indicado por Abraão. No limite, não havia justos em Sodoma e Gomorra, como não há em toda humanidade. A intervenção de Abraão não foi suficiente para salvá-los. Ele sabia que Deus não puniria os justos com os ímpios. Porém, no fim, eram todos ímpios. Se Sodomo e Gomorra aponta para a humanidade, estaríamos todos perdidos, caso não fossemos justificados por meio de um intercessor perfeito: Jesus Cristo. Jesus sabia que se dependesse de nós, da própria humanidade, nosso destino seria o mesmo da população de Sodoma e Gomorra, pois nossa dívida para com Deus continua sendo impagável:

Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?
Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete.
Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos;
E, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos;
E, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse.
Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.
Então o Senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida.
Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves.
Então o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.
Ele, porém, não quis, antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida.
Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passara.
Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste.
Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?
E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que lhe devia.
Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.

Mateus 18:21-35

Ou seja, não importa o tamanho de nossa divida, de nosso pecado, se é grande ou pequena, no final, nenhum de nós temos condições de pagá-la.  No final, não há justos. Todos habitamos, de certa forma, Sodoma e Gomorra. E Jesus sabia disto. Sabia que se dependesse de nós, de nossas ações, e da intervenção de homens a nosso favor, estaríamos perdidos. Era preciso um outro tipo de intercessor. Um que não apenas nos defendesse, mas que pagasse nossas dívidas. Era necessário um intercessor que fosse totalmente homem. Mas Abraão era limitado para esta tarefa. Era necessário que fosse mais do que homem, pois totalmente Deus. E este é Jesus, o nosso intercessor. 

"e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo." 1 João 2:1

Não somos justos, pois portadores de uma dívida impagável, mas sim  justificados em Cristo, a partir de sua morte e ressurreição. E com isso, a pergunta de Abraão perde sentido: "destruirás também o justo com o ímpio?"  pois, a partir de Jesus, todos que o aceitam como seu Senhor e Salvador estão justificados. E o argumento utilizado por Cristo passa a ser outro: não há porque puni-los. A sua dívida já foi paga. Eu morri, derramei meu sangue, para justifica-los, como indicado pelo profeta, e reafirmado pelo próprio Deus:

Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniqüidades deles levará sobre si.

Isaías 53:11

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

João 3:16

Jesus fez o que nenhum homem poderia fazer, nem mesmo Abraão, o amigo de Deus. 

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