Resenha - Fator Melquisedeque

Título: O Fator Melquisedeque
Autor: Don Richardson
Editora: Vida Nova


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E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo.
E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra;
E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.
Gênesis 14:18-20

Jurou o Senhor, e não se arrependerá: tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque.
Salmos 110:4

Onde Jesus, nosso precursor, entrou por nós, feito eternamente sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.
Hebreus 6:20

Melquisedeque é um personagem bíblico com rápida passagem no Antigo Testamento. Era rei de salém (futura Jerusalém) e sacerdote de El Elyon, o Deus Altíssimo. Em Gênesis, é narrado um encontro de Melquisedeque (Rei da Justiça) com Abraão, que o considera sacerdote do mesmo Deus que seguia e, como consequência, lhe entrega o dízimo. Este fato indica que outros, além de Abraão e sua família, criam no Deus Altíssimo, sendo este o fator explorado por Don Richardson neste livro. Obra, clássica, surpreendente e necessária, tanto por seu cunho missiológica quanto pelas interpretações bíblicas nela apresentadas.
Partindo do encontro relatado, o autor nos apresenta o fato de que a Promessa de Deus para Abraão deve ser entendida para além de um pacto tribal: “Em ti serão abençoadas todas as famílias (povos) da terra (Gn 12:3)”. Seria o Início de um processo de revelação especial, que passa a coexistir com a revelação geral de Deus, conhecida por Melquisedeque.
Como obra missiológica, e partindo da existência da revelação geral, denominada de Fator Melquisedeque, entende que diversos a receberam, sendo preparados para o evangelho. O livro é assim dividido em duas partes: na primeira, apresenta casos onde o Fator Melquisedeque se apresenta; e na segunda, trata da forma como o novo testamento reforça a noção de que a revelação não é exclusiva de um povo, sendo fundamental levar o cristianismo a todos.
Don Richardson inicia a trajetória do livro com uma história cretense, narrada por Epimênides, quando um deus desconhecido teria livrado-os de uma peste, ou praga. Em Atos 17:22-23, Paulo, ao falar aos atenienses, retoma a história: “Então Paulo levantou-se na reunião do Areópago e disse: "Atenienses! Vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos, pois, andando pela cidade, observei cuidadosamente seus objetos de culto e encontrei até um altar com esta inscrição: AO DEUS DESCONHECIDO. Ora, o que vocês adoram, apesar de não conhecerem, eu lhes anuncio”. Também em Tito 1:12, faz referência a esta história, denominando Epimênides de profeta.
No entanto, apesar da indicação da existência de Deus, os gregos da época de Epimênides o recusaram. Segundo o autor, quando o homem rejeita o Deus único, há um tendência de multiplicação de deuses menores, em uma busca frustrada de substituição.
É importante ressaltar que para os gregos o termo Theos indicava a ideia do Deus supremo. No entanto, tinham dificuldades de entendê-lo como designação de um nome pessoal. Daí a opção, no evangelho, por “logos”, ou verbo, em uma estratégia de aproximação (João 01:01).
Se Deus se revelou a povos pagãos, ou não judeus, esta deve ser completada pela revelação especial, denominada pelo autor de Fator Abraão, a partir de estratégias que possibilitem identificar que falamos do mesmo Deus, e assim, abrir-lhe os olhos, como indicado em Atos 26:17-18.
Seguindo na mesma linha, o autor nos apresenta relatos de povos que, de alguma forma, tiveram acesso a revelação geral, como o caso de Pachacuti, rei inca, conquistado pelos espanhóis, construtor de  Machu Picchu. Ele questionou o deus sol, e saiu em busca do verdadeiro Deus, denominando-o de Viracocha, criador de todas as coisas. No entanto, esta concepção ficou restrito a nobreza, e de certo forma, morrendo com a conquista pelos espanhóis.
Ou seja, como indicado em Atos 14:17, Deus não ficou sem testemunho, havendo o reconhecimento quase universal de um Senhor supremo. Segundo o autor, estes exemplos demonstram que o Deus dos Céus prepara o caminho missionário, e que o sucesso se dá por causa da religiosidade local, e não apesar dela. Este fato seria distinto do sincretismo, que levaria ao fator sodoma, ou seja: sobrepor a religião politeísta e idólatra a religião monoteísta nativa, uma estratégia do inimigo.
Aliando sua perspectiva missionária com um forte conhecimento bíblico, o autor nos indica que a ideia de missão permeia toda bíblia, iniciando em Abraão, quando há a promessa de que nela seriam benditas todas as famílias da terra. Assim, a aliança abraâmica seria a base para o que Cristo viria cumprir. Concepção afirmada em apocalipse, quando é indicado que todos os povos, tribos, línguas e nações seriam alcançados pelo descendente de Abraão, Jesus Cristo. Neste sentido, o autor dedica parte de seu livro para demonstrar como os evangelhos apresentam Jesus atuando a favor dos gentios, em um cumprimento a aliança abraâmica.
O ponto alto teria sido a  expulsão dos comerciantes do pátio dos gentios, no templo de Herodes. Este local seria destinado a receber, honrar e orar pelos estrangeiros. Aqui Jesus cita Isaías, que afirma que o templo é casa de oração, para todas as nações:

e lhes disse: "Está escrito: ‘A minha casa será chamada casa de oração’; mas vocês estão fazendo dela um ‘covil de ladrões’" (Mateus 21:13).
7 esses eu trarei ao meu santo monte e lhes darei alegria em minha casa de oração. Seus holocaustos e seus sacrifícios serão aceitos em meu altar; pois a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos" (Isaías 56:7).

Por fim, o autor demonstra que a resistência missionária, e de entendimento de que a promessa abraâmica seria para todos, estaria presente já nos primeiros apóstolos, apresentada a partir de sua relutância em obedecer a grande comissão. Após a leitura de um quarto do livro de atos, encontramos os apóstolos ainda em Jerusalém, até dois eventos mudarem o rumo da história: a dispersão cristã devido a perseguição judaica e romana, e a escolha de Paulo para servir de instrumento para agir junto aos gentios.

Publicado originalmente no Jornal Central em Foco, da Igreja Presbiteriana Central de Londrina.

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