E Jesus viveu entre nós

Jesus -  Caravaggio
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Já fui questionado, algumas vezes, se Jesus realmente existiu. Para quem tem dúvidas a respeito não só da existência de Cristo, mas da veracidade dos evangelhos, sugiro a leitura do livro “Mais que um Carpinteiro”, de Josh McDowell. O certo é que Jesus Cristo, assim como seus discípulos, são históricos. Ou seja, nasceram e viveram entre nós:

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (...) E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade (João 1:1 e 14).

Ou seja, Jesus, que é Deus, e também homem, viveu entre nós, em um determinado contexto histórico. E é neste que desempenhou seu ministério, sofreu as dores do calvário, morreu e ressuscitou. E é a partir desta realidade que devemos entender o início da igreja cristã.
Para os judeus, este seria um momento de conflito e perseguição. Conflito interno, marcado pela existência de grupos e facções, como os saduceus, os samaritanos, e os fariseus, que detinham a hegemonia e o controle da religiosidade da época. Estava, a caminho, um processo de redefinição de uma identidade judaica, com o papel dos religiosos fariseus e do sinédrio (corte suprema da lei judaica, com a missão de administrar justiça, interpretando e aplicando a Torá, além de representar o povo judeu frente as autoridades romanas), sendo questionados, e com a resistência em relação ao domínio romano ganhando corpo.
O que nos remete ao conflito externo, a partir do processo de consolidação do domínio romano sobre a Europa, parte da Ásia e da África. Interessante que, apesar de afetar diretamente a autonomia judaica, este domínio favoreceria a expansão da igreja de Cristo. E aqui podemos identificar um terceiro conflito, que se dá após a ressurreição de Cristo e a chamada grande comissão, quando é dada a seguinte orientação aos discípulos:

Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém. (Mateus 28:19-20).

O conflito, entre os primeiros cristãos,  seria entre  ficar junto os judeus ou expandir o cristianismo para os gentios. Vale ressaltar, como lembrado por Don Richardson no livro Fator Melquisedeque, que em todos os evangelhos Jesus aponta para a necessidade de atuar junto aos gentios, ou não judeus, confirmando que a graça seria para todos. No entanto, Seus discípulos, nos primeiros anos da igreja cristã, permaneceram em Jerusalém e seus arredores, revelando uma dificuldade cultural por parte dos mesmos, e assim, uma tendência de que o cristianismos se tornasse uma religião para judeus.
Dois fatores impediram este acontecimento: primeiro, a dispersão cristã, fato que ganha corpo após o morte de Estevão, condenado pelo sinédrio por blasfêmia. Nesta condenação, fariseus e saduceus estiveram unidos, e um dos grandes personagens na perseguição cristã que se sucedeu fora Saulo. O que nos leva ao segundo fator: sua conversão, passando a ser chamado Paulo, tornando-se um dos grandes responsáveis pela ação junto aos gentios, e certamente, pelo fato de o cristianismo ter chegado até nós.

Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus (1 Coríntios 15:09).

Ou seja, é neste contexto que encontramos Jesus, que incorpora parte dos anseios dos judeus, mas demonstra a necessidade de ir além, pois não estava ali para atender um grupo específico de pessoas ou para defender uma causa. É neste contexto que os discípulos foram chamados para atuar, após Cristo, dando continuidade ao seu ministério. Foram chamados, evidenciando que não é o homem que decide, mas Cristo que nos chama, e assim, passam a ter autoridade, em nome de Jesus.

Neste momento, de constituição da igreja primitiva, apesar dos conflitos apresentados, há um elemento de unidade: Jesus, que se sobrepõe a diversidade de povos e culturas, no caso, judeus, gregos e romanos, redefinindo identidades e indo além da salvação de um grupo, povo ou nação.

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